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Caixa do Escriba – Pablo Neruda

11 jan

Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

15 maio

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São só três ou quatro linhas. Em papel, pois você, neste momento, é longe. Se perto fosse, sussurraria estas palavras em teu ouvido como o maior segredo do mundo. Velado e profano, como todos os maiores segredos do mundo devem ser. Mas, devido à distância, jogo as frases ao vento, pra que dancem e te encontrem no teu repouso.

Agora, me sinto só. Acho curioso como só a falta de alguém nos dá a dimensão exata do tamanho espaço que ocupa em nosso dia a dia. Coisas cotidianas, subitamente se tornam a coisa mais prazerosa do mundo.

Tudo começa com lembranças de coisas pequenas, praticamente automáticas. Detalhes imperceptíveis de nós. O cheiro do despertar, o encostar do cabelo em meu rosto, os braços a me envolver a alma. A insignificância do toque. Tão esquecido, tão menosprezado. Toque que dá sentido, que guia, que contém, que liberta. Algum poeta algum dia falou que a beleza da vida está nos detalhes. Pois é. A sua também.

O mundo sem você torna-se uma grande arena onde enfrento os dias compridos, que se estendem preguiçosos e parecem ter mais de vinte e quatro horas. Onde as noites viram batalhas intermináveis na busca do teu rosto no meu sonho, tão efêmero e volátil.

Acabei de lembrar que iam ser só três ou quatro linhas. É que os textos, assim como o amor, começam pequenos. Uma faísca que acaba consumindo o ar em sua volta e se tornando algo grande demais pra caber em um só ser. Por isso essa idéia tem que ser escrita. E o amor, vivido por dois.

Te espero de volta. Espero o reencontro com teu riso fácil e teu olhar firme, com tua voz e tua mão. Então iremos nos mesclar num abraço desse tamanho e trocar beijos intermináveis ouvindo Little Joy. E decidir que, à partir deste momento, o mundo é nosso. E o universo ao nosso redor é apenas isso. Um pano de fundo. Cenário do nosso número principal.

Te Amo.    G.

Beijo Velado

30 out

Entre longos cabelos, oculto, meu rosto
Paira no céu das estrelas pulsantes.
E, no ritmo extremo dos peitos arfantes,
Encontro o nascer deste sol antes posto.

E o brilho dos olhos reflete o presente
Envolto por brumas de tempos de outrora,
Levando-me a mente a pensar que o agora
É a parte que importa, a flor da semente.

E é ali, encoberto por tão doce olor,
Que sei que, um dia, desejo morrer,
Cansado do mundo, sem mais recorrer,
Em um beijo velado de tanto sabor.

Guilherme Goulart

Anjo

29 out

Se eu pudesse cantar esse teu sorriso
Ou quem sabe pintar essa tua pureza
Esculpir o futuro que profetizo
Fazer poesia da tua beleza  

Se contasse do bem que tu me fizeste
Ou da grande paixão que agora sinto
De que eu fui tocado por ser celeste
Meu bem os mortais diriam que minto

Que a loucura é o mundo por onde tanjo
Ou então com certeza que eu sou insano
Porque nunca no mundo existiu um anjo
Que tocasse a face de um ser humano

Guilherme Goulart